terça-feira, 17 de março de 2009

Cerúleo

E quando me perguntam
o que, dentre tudo que é bonito,
no mundo é o mais lindo
Eu respondo sem hesitar e até mesmo rindo
Que boniteza é qualidade pouca
pro céu clareando e o sol colorindo
minhas manhãs preguiçosas de todo domingo
olhando a gente e a vida que vou descobrindo
ao andar descalça por caminho que é findo
Mas só quando me leva a lugar nenhum

E se então me falarem
que eu estou me iludindo e tentarem
acinzentar esse céu que, meu Deus, é tão lindo
tornar frio e duro esse caminho que vou seguindo
e frios e duros os rostos de quem me vê indo
Eu digo que não e sem pudor prossigo
cerzindo com passos pesados de pés despidos
Linhas tortas que a minha estrada vão formar,
tingindo de azul as linhas da palma da minha mão,
esperando chegar a algum lugar

Hoje fui dormir 5:30 da manhã, assim mais ou menos, e o céu já tava ficando claro. Lembrei de Alvorada do Cartola na mesma hora e quando acordei escrevi isso.

"O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo. E a natureza sorrindo, tingindo, tingindo..."

segunda-feira, 9 de março de 2009

Poeminha

A minha vida, será que ela é minha?
Vejo pessoas e frases
e sentimentos e lugares e tudo, tudo,
parece fazer parte de mim e devo estar certa

Só que tudo, tudo, também é de alguém
um alguém que nunca vi nem sonhei
um outro qualquer que não conheço
Que não é parte minha, mas dono de partes que para mim tomei

E o que faz meus amores serem meus
meus lugares, meus livros serem meus
meus parentes, meus braços serem meus
e eu deles, propriedade e proprietária

E o que faz esse alguém não ser meu,
o que faz quando é dono de muito que tenho eu
quando nossos caminhos se encontram em tantos pontos
que eu nem sei quantos de tantos que são

Se é preciso conhecer para se ter
Por favor, alguém, me conheça se apresente se mostre
um aviso no poste da rua, no jornal de domingo ou algo assim
uma aparição na porta da minha casa dizendo que é alguém
que minha vida já não pertence a mim

quinta-feira, 5 de março de 2009

De 2006 e atual

Não é o frio que dá quando passo pela orla:
na barriga, na pele e no peito
Não são as lembranças de outrora
Nem mesmo o medo:
de morrer sozinha, ser comum ou infeliz
Até o de virar memória e sorriso pequeno
no rosto de quem amei, já não temo mais
E tudo o que acontece e vive e pulsa,
eu já nem me importo e não olho para trás
Mas é que a tristeza que dá quando passo pela orla:
no pescoço, no coração e no ouvido
É dor e prazer
E eu tenho medo, sim, de me perder nas lembranças
buscando um pouco de felicidade
E abandonar o viver porque a maior dor desse mundo
Ela é minha e ela é só

Sobre a vida (também)

Dizem que a vida é dividida em momentos de felicidade e tristeza, de prazer e dor, de sentimentos e sensações antagônicos. Para mim, ela não apresenta toda essa heterogeneidade. Muito pelo contrário: de forma ilustrativa, é mais como uma parede de cor insossa (bege, talvez), sem quadros para adorná-la e tampouco rachaduras que a tornem feia. É certo que existem alguns poucos momentos na vida em que a vida (e aqui falo sobre a imagem que existe no subconsciente coletivo do que é viver, coisa e tal) realmente acontece e isso não pode ser ignorado, mas o que predomina no espaço de tempo que vai do nascimento à morte de uma pessoa é bege e apático.
Tomo como exemplo a minha própria vida, deixando claro que tenho ciência de que talvez toda essa análise se aplique apenas à ela. É muito triste o fato de que se me pedissem para citar ao menos dez momentos em que eu realmente vivi, em que verdadeiramente senti algo além de uma semi-tristeza débil, eu não poderia. Não saberia e provavelmente até entraria em algum tipo de estado estático, pois não seria capaz nem mesmo de inventar ocasiões que fizessem minha existência não ser digna de piedade, o que é um tanto embaraçoso.
Mas será que falo só por mim quando digo que a vida é maçante, que os eventos importantes e sensações reais são poucos e que os caminhos que percorremos (de paisagens tão parecidas) servem apenas para levar a todos nós ao mesmo e inevitável destino que é a morte? Observando as pessoas (que são únicas, sim, mas extremamente semelhantes nas suas diferenças) chego à uma conclusão: tudo isso é sabido e existe alguma espécie de pacto, de acordo secreto entre toda a humanidade que visa esconder o fato de que a vida não é essa montanha-russa de acontecimentos de que tanto falam e sim um pequeno carrossel, chato e enjoativo, dando voltas no mesmo lugar.
Finalmente, a questão mais importante: seria possível não seguir as regras de segurança do parque e, sei lá, dar uns pulos entre os cavalinhos do carrossel?